“Acid Free” ou livre de ácido é o papel que em sua composição não foi utilizado nenhum
produto com reação ácida ou que com o passar do tempo, se decomponha produzindo
resíduos ácidos.

Essa denominação nos leva aos papéis que utilizam cola animal em sua composição, para
desenvolverem uma resistência parcial à água. Esse processo foi usual até a metade do
século XIX em papéis artesanais para que tivessem uma resistência parcial à água
necessária, porque a escrita era feita com tinta azul à base de sais de ferro dissolvidos em
água. A absorção do corante com base água penetrava no papel, onde se fixava, mas sem
se espalhar. Para secagem era necessário o uso de um “mata borrão” que absorvia o
excesso de tinta e evitava que o papel escrito borrasse. A utilização da cola animal deu a
este processo o termo de colagem do papel para escrita.

Em meados do século XIX, a produção de papel em máquinas contínuas permitiu a
utilização de outras matérias primas além das fibras têxteis. Com o processo da polpação
de madeiras, surgiu um novo processo de colagem de papel com uma resina natural, de
origem vegetal, proveniente de madeiras coniformes, principalmente pinheiros.
Essa resina natural, também chamada de breu, é muito eficiente por permitir uma
impermeabilidade controlada da superfície do papel. O breu é solúvel em soda antes de ser
adicionado à massa do papel e como tem carga elétrica negativa, assim como a celulose, é
necessário adicionar uma substância para criar uma carga positiva na resina. Isso se
conseguiu com a utilização do “alumen” (sulfato de alumínio) e, como ele tem uma reação
fortemente ácida, esse processo passou a ser denominado colagem ácida. Esta prática
se expandiu e foi muito utilizada até o final do Séc. XX. Ainda hoje mais da metade dos
papéis produzidos no mundo seguem esse processo de colagem ácida.

As características do processo de colagem ácida resultam em um papel com boa qualidade
para escrita e impressões em geral. Mas, por ter uma superfície com reação ácida (pH entre
4 e 5), com o tempo o sulfato de alumínio restante libera resíduos ácidos que tendem a
atacar as fibras de celulose e os papéis têm uma duração menor que os papéis antigos que
utilizavam colagem animal.

Aquela certidão de casamento de nossos avós, que amarelou e está toda quebradiça é um
forte exemplo de como os papéis ácidos deterioram-se ao longo do tempo.
Por conta desse tipo de coisa, ocorreu uma grande procura por papéis com colagem animal
que passaram a ser fabricados novamente.

A partir da década de 70 surgiu um novo processo de colagem feito com a utilização de
resinas sintéticas, com boa reatividade com a celulose sem a necessidade de produtos
ácidos.

Esse novo processo foi escolhido por permitir a utilização de um novo pigmento como carga
que é o carbonato de cálcio, inicialmente de origem natural como pó de mármore e depois
sintetizado como pó precipitado. Como os dois são brancos, o resultado foi uma brancura
nunca antes atingida na fabricação do papel. Este processo de produção de papel passou a
ser chamado de colagem alcalina e se difundiu pelo mundo todo.

Desta forma, é possível produzir hoje papel com colagem sintética com uma superfície com
reação neutra e também papel com colagem sintética com reação alcalina. Ambos os
produtos são considerados Acid Free, como os papéis antigos que eram produzidos
geralmente de maneira artesanal, por terem uma reação neutra ou muito ligeiramente
ácida.

Os papéis Acid Free são os preferidos dos artistas plásticos e pintores para trabalhos em
aquarela, óleo e acrílico. Esse tipo de papel é também recomendado para impressão de
documentos de grande expectativa de vida útil e para a restauração e conservação de
documentos, por serem papéis de longa permanência.

Isso nos leva ao termo “Papel Permanente”, tão usado nos meios arquivísticos e artísticos.
Mas, sobre isso, falaremos no próximo Post.